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terça-feira, 10 de março de 2009

Encruzilhada


1.
choveu a noite inteira
idos de abril ou maio
princípio do frio
corpo ruidoso
calado pelas margens
cheiro de poeira do tempo
barqueiro do styx
silêncios do meu âmago
corpo livro de sangue
tempo de colheita tempo de guerra
margens te contém
tua fúria irá devastá-las?
odor de ervas frutos maduros
campos arados animais pastagens
vermelho pôr-do-sol
perfil incandescente
tentações de santo antão
este é meu corpo
imagens
dia de ação de graças
2.
beijei tua boca como qualquer
homem beijaria a boca do riso
clarão se fez em meu estômago
descoberta do outro
outro sexo
o mesmo
corpo
o mesmoutro sexo qorpo extraño
estranheza de narciso ao tocar-se
desconhecido
o outro eu existe
exala
exaure
exangue
foi um sol se adentrando na boca
brasas na língua
flores de cerejeira
luz de betelgeuse
olho de ares
vida participa desta morte
3.
o paraíso terrestre é onde estou
águas submersas
deus líquido oculto
tuas águas lavarão nossos corpos
tuas águas levarão nossos corpos
incrustações na crosta do tempo
a cor da vida escorre
gosto de plasma
iridescências-rubi desejosa marca na testa
expulso por saborear o fruto do saber
caminho muito além do este do éden
da tribo dos cainitas sou o erranter
ota torta através do meu centro
4.
vento sul odor do frio
vislumbre da cidade cacos
olho assustado
boca sem metáforas ou aforismos
carros progresso fuligem
gosto de terra ancestral
hálito das feras na memória
grande deus águas submersas
sagrado é o vosso cheiro
inominável teu olor
uma noite em paris
ouro preto
sua cabeça ao meu lado
leve sono de criança
geou a noite inteira
junho e julho tempo de dor
som oco de eco
silêncio pedra


Marcos Ferraz

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