Poemagem

Tudo como aconteceu
- Poesia!
Pelo mal que me fez feliz
e por saber de seus pensamentos
preenchem páginas, muros e manifestos
os seres vivos e fantasias que lhe deram um nome
o costume de ser apenas a você, os merecimentos
por nunca terem sido verdadeiros
longe do que não pode ser por estarmos sempre juntos
longe do talento de criar alguém, por nunca ter existido.
o que se vê em um novo horizonte,
está ausente de velhos sentimentos
perto do que de mehor fizemos,
perto de tocar você
e se conseguisse, diria que não foi amor...
somos apenas poesia
é isso...
até você ficar em páginas, muros e manifestos.


Cibele Camargo - do livro "A Vida Além da Sua"

Momentos se Eternizam

Há momentos que se eternizam...
Troca de olhares
Sem pressa
Decifrando cada instante
Toques que falam por si
Descobrindo cada uma
Das fases ainda não conhecidas
Sons, silêncios e tremores
Percebidos somente por dois
Que fazem desse momento
Um estado de espírito
Um lugar nunca antes habitado
Vozes entrelaçadas
Em suspiros trocados
Nesse instante há só
Um doce intruso
Que junta-se aos dois
Como se fizesse parte deles
Um puro e límpido
Som que se faz melodia
Ao acariciar a janela...
Água da chuva!

Rita Encinas

Tabernas Não Existem Mais

Tabernas já não existem mais...
essas cavernas acolhedoras e sensuais
regadas de muito vinhos e desejos,
alardeados aos quatro cantos
ou confidenciais ao pé de ouvido
de quem já duvido que possa entender
a avalanche de palavrasque formam frases
já transtornadas pela inevitável embriagues.
Confesso eu sou antigo freguês
que jamais conseguirá pagar pelo o que seu olhar me fez:
ele trouxe tantos sonhos
tanta paz em minha taça de cristal,
onde destilo a minha rara lucidez...
Tabernas já não existem mais...
Por isso hoje durmo ao relento,
sentindo o frio em toda a sua rispidez
sem ter algo para me cobrir e me aquecer;
eu lembro de você,
quando, nas ruas, deixo verter
a lembrança da tua ardente nudez...
Tabernas já não existem mais...
o clima medieval se evaporou no tempo...
a rolha da garrafa do gênio se desgarrou
e deixou escapar todo o encanto..
eu me lembro como se fosse ontem,
quando entrei pela ultima vez
por uma delas com suas portas róseas...
Muita música...um frenético piano..
.poetas declamando os seus versos dispersos,
vagabundos compartilhando seus ócios,
mulheres da vida...mulheres comportadas...
que desejaram fugir da asfixiante rotina...
Jarras e jarras de vinho sobre as mesas
para celebrar o ritmo inebriante da vida...
circundadas de cadeiras que se esgueiram
para segurar a euforia ou a extrema melancolia
das pessoas, das vestes, disfarces e trapos humanos
escorrendo como uma ininterrupta fonte...
Via Toulosse Lautrec se embriagando em cores
para pintar os mistérios da Noite...
Eu via e ouvia Chet Baker, empunhando o seu trompete,
para interpretar a sua alma-o lado romântico e o lado cafajeste
o medo da vida e a coragem do suicídio...
Via também Bob Dylan sentar sobre a cadeira
e tirar delicadamente as botas empoeiradas
por um longo caminho e produtivo dia
que lhe renderam maravilhosos versos,
destilados em sua garganta e em sua gaita
que jamais se cansa de explorar os sons do Universo...
Tabernas já não existem mais...
e agora onde vou me recolher, me reconfortar...
Não vou poder mais ouvir Ana Cristina Cesar
declamar os seus versos suicidas...
Não vou mais poder ver a jovem Keidy
de cabelos e versos rebeldes,
de olhos virtuais,mas com um brilho tão nítido...
como eu vou fazer se tabernas já não existem mais...
se a Lei Seca foi reimplantada...
se da minha gang sobrou apenas a fama,
por onde passaram ,com seus surrados jeans e deslizantes tênis:
James Dean, Paulo Leminsky, Ferreira Gullar
com os seus poemas sujos,
mas sempre transparentes...
e tantos outros camaradas...
Tabernas já não existem mais...
só resta o gosto seco na boca...
a lâmina do punhal na garganta...
para nos devorar!

Carlos Gutierrez

Idade Média

Se alguém brilhar,
diga que não posso.
se alguém quiser,
diga que não quero ser.
Se alguém chamar,
fale do medo que modifica a visão.
Falta luz,
falta vida.
Aquela voz antiga,
preside as falas do incesto
nunca ouviu dizer aluga-se,
nem tinha pressa em cometer
o maior dos pecados.

Cibele Camargo - do Livro "A Vida Além da Sua

Tem Dias...

Não sei se você é assim
Tem dias que quero sumir
Não sei bem o que acontece em fim
Até de mim quero fugir...
Tem dias que preciso de um carinho
Para que possa reconhecer o caminho
E ter certeza de que não vou cair...
Preciso me sentir amada.
Tem dias que isso é mais que importante
Mas abro os olhos e nada...
Me sinto então perdida
Como uma ave ferida
Tem dias que preciso só de um olhar
Que me aqueça a alma
Que me diga você pode sonhar
E que me traga muita calma
Tem dias que preciso só de você
Como do ar para respirar
Mas olho em volta...
E você não está...

Estou com vontade de sair correndo

Sei lá pra onde

Talvez um lugar que me esconda

Dentro de mim mesma

Quero ficar só, mas não agüento solidão

Me transformo então em várias

E converso comigo mesma por horas

Começo a rir de minhas sandices

Parece que a vida só tem graça

Se houver maluquice

Não consigo me levar a sério

E fico a pensar como há alguém que consiga

Queria desvendar esse mistério

Pareço brincar com tudo

Até quando me contam desgraças

Mas é completamente sem graça

Quando bate a minha porta

Como que fazendo pirraça

Por ter amenizado a dor

De pessoas que amo

Fazendo graça

Dina Isserlin
&
Rita Encinas

Nascimento

O dia que a sombra de uma estrela
dançou na areia da praia,
a água do mar acompanhou seu movimento
até o nascimento de um espírito sensual
no meio de nós.
- Completamente absoluto
como se fosse a verdadeira paz !


Cibele Camargo - do Livro "Verdades e 1/2"

Pensamentos

Quisera...
Quisera ser uma borboleta
Linda e multicolorida
Ver sempre uma nova faceta
Desse mistério chamado vida
Quisera ser um beija flor
Voar por todos os jardins
Não sentir nenhuma dor
E só sentir o amor em mim
Quisera ser uma andorinha
Saber sempre o caminho
Nunca mais me sentir sozinha
Ter certeza de que há um ninho
Quisera ser uma águia
E a distância conseguir ver
Que existe a magia
e que você vai perceber
Quisera ser a brisa calma
E em teus ouvidos sopra
Que sem você estou sem alma
E dela preciso pra me achar
Quisera ser criança novamente
Poder sempre sonhar
Dormir tranquilamente
Ter você para amar, abraçar e beijar
Quisera...

Hoje me sentei na beira do mar

Ele estava lindo e brilhante

Deixei meus pés ele tocar

Parecia um calmo carinho

Eram mãos macias a dedilhar

Como para me mostrar o caminho...
Por um instante me deixei levar

Senti na pele o sol aquecer

E fechei meus olhos para pensar

Que por um momento eu podia ser o mar...

Por um instante me senti plena e feliz

Ele me envolvia , abraçava e amava

Tentou de todas as formas me encantar

E me fazer crer que eu era o mar...

Mas foi só por um instante por um momento...

Quando finalmente os olhos abri

Senti fugir de mim os pensamentos

Da realidade não pude escapar

O mar agora saía em lágrimas

Teimando por minha face rolar

Lágrimas salgadas como o mar....

A brisa na varanda

Sentada na varanda
Minha vida ia revendo

Parecia uma linda ciranda

Que hoje acho que entendo...

Sentada na varanda
Me permiti sonhar
Com a vida que ainda quero ter

Me senti acarinhada

Por uma brisa que me fez tremer
Ela dizia:vem amada...

Você ainda tem muito o que viver...

Cada amanhecer...

A cada amanhecer penso...
Hoje é o dia que tudo vai mudar
Será que hoje te esqueço?

Será que hoje vou me achar

A cada amanhecer espero...

Uma nova chance de sonhar

Porque sei que mereço

A cada amanhecer digo...
Hoje vai ser diferente

Vou tirar você da mente

A cada amanhecer percebo...

Que novamente
Esqueci de te esquecer...

Dina Isserlin

Um Sonho em Cores

Quero que me busque e me encontre

Por entre as estrelas,
Nas curvas do vento
Numa refrescante noite de chuva
Em uma canção de amor...

°°°

“Te vejo lá no luar

Te espero lá no sol...”

°°°

Ou mesmo até

Na presente lembrança

Do perfume de meus cabelos

Acariciando teu rosto

Perplexo de dúvidas...

°°°

“Juntos, dentro, horas

Tudo ali às claras...”

°°°

Lembranças são presentes

Embalados com as mais

Belas fitas coloridas,

Presentes no embalo

De corações disparados...

°°°

“O que há dentro do meu coração

Eu tenho guardado pra te dar...”

°°°

Troca de olhares,

sua roupa em mim

Meus braços te vestindo

Perfumes misturados

Sentir o gosto da minha boca na tua

Tudo está presente em mim...

°°°

“Quanto mais desejo um beijo seu

Muito mais eu vejo gosto em viver...

°°°

Rita Encinas

Namorar é Assim...

Enquanto teus olhos

Dizem que me quer

Minha boca diz:

Sou tua

Enquanto teu coração

Salta peito afora

O meu acompanha o teu

Em um só compasso

Teus pés conhecem bem o caminho

De um belo jardim

E minhas mãos colhem

As mais belas flores

Pra enfeitar meus cabelos

Que quando sentes o perfume

Sussurras em meus ouvidos

As mais lindas palavras

Que se transformam em poesia

Que dispensam rimas

...

Meu amor é teu

Tua paixão é minha

Rita Encinas

Procurando dias de Vinícius

Eu ando procurando versos...
procurando rimas...
procurando dias de Vinicius sem fim..
e noites de amores eternos...
as vezes resvalo em sonhos
e outros por sorte
encontro-os colados em minha pele...
então basta transferi-los
com todo o esmero de um calígrafo
e afinco do esmerilho de palavras brutas
para o peito aberto e amigo
de um carente caderno...
eu ando...ando..desando..
mas sempre amando...
procurando o brilho da vida
dentro dos olhos de alguém
onde flutuam estrelas!

***

Então...não precisou de mar
nem de areia tão pouco ondas intensas!
Não precisou de seixos, pedrinhas brilhantes
e estrelas do mar!
Nem precisou do Sol
com seus raios intensos de luz!
porque a sua pele se fez macia areia
e o seu corpo se fez sedutora sereia
e o seu olhar se fez feitiço
e a sua boca o artifício do lago
para despejar todos os meus desejos!
Você me deu mais que um dia de Vinicius
você me deu toda a eternidade num momento
Você me deu um dia de Vinicius...
já seria o suficiente!
e mil noites de sonhos!


Carlos Gutierrez

Só Por Hoje...

Para satisfazer aos seus mais

Obscuros devaneios

Deixo que entre em meu quarto

Só por hoje...

Cortinas negras

Que sugiram um ambiente

Macabro e sombrio

Capazes de causar

Calafrios e desejos mórbidos

Do teu sangue juntar-se ao meu

Em chamas ardentes

E escorrer pelos vãos gélidos

Do chão feitos com espinhos

Arrancados de tua face

Cheia de pavor

Deixo uma fresta na janela

Para que possa entrar

Aquela brisa funesta

Que tanto gosta

E que te desperta anseios

De me rasgar ao meio

Pra que eu seja

Teu esconderijo maldito

Onde gostarias

De permanecer para sempre!

Rita Encinas

Haveriam Dias / Três Pequenas Palavras

haveriam dias em que
eu nem te tivesse conhecido
nestes dias em que eu ignorava
o sabor da sua boca
o cheiro da sua pele
ou a cor da sua aura

haveriam esses momentos
de total desconhecimento
dias sem dor
dias sem cor
dias sem flor

pois esses dias haveriam de estar
gravados em calendários de pedra
onde o tempo, entalhado, inerte ficaria

dias sim que haveriam de estar
cruci-fixados
em um campo de terras estéreis

mas que esses dias se dissolveram
no calor da minha alma entregue
ao sabor errante do seu beijo
nesses dias que haverão de ser
no reino das lembranças
dias desconhecidos


ღ.•♥´¨`♥•.¸ ღ.• ♥´`♥•



Isto que eu lhe escrevo, este registro incompleto do que aconteceu entre nós, este toque de almas num só corpo, este emaranhado de palavras que tentam transcrever o emaranhado de sensações daquele momento, será que você suportará a dor que lhe darei? Sim, dor, porque isso é uma dor, escrever sobre aquele instante é dor, arrancar de mim é uma dor, de novo e de novo e... você vai querer voltar a ela? Eu quero eternizar algo que já se foi, uma lembrança da passagem do seu corpo pelo meu e do meu pelo seu corpo, aquilo que está por baixo da pele se toca: o que é uma ferida aberta se unindo a outra? Eu não estou tentando dizer que tem que ser do meu jeito. Eu estou sempre disposto a aprender quando você tem algo a me ensinar. O que eu quero agora é resgatar algo do que foi esse toque de peles e intimidades e lacerações e cortes e rasgos que houve entre nós. E essas canções me perseguem, fiapos de melodia soprados no ar, cabelos e asas de anjos demoníacos que me tocam e trazem lembranças suas. Você sabe o que é ser tocado por um anjo? O vento sabe a resposta.


Madame Sylvie
&
Lord Marcos

Num Certo Lugar do Paraiso Terrestre

a paz que há:

nas nuances do seu cheiro

na brisa da manhã

nas asas de uma borboleta

na preguiça de uma gata

nas cores de manet

na cerimônia do chá

nas costas de uma mulher

a paz que há:

no olhar de uma criança

nos quadros de morandi

no jardim zen

nos acordes de uma sonata

no caminhar a esmo

nos dedos entrelaçados

no respirar de uma mulher

a paz que há:

entre duas respirações

entre dois dervixes

entre duas piscadas

entre dois fotogramas

entre duas batidas de coração

entre dois momentos

entre as coxas de uma mulher

a paz que há:

junto a você

Marcos Ferraz